Uma conversa com o autor que deseja ser publicado
Ano passado, a Rocket abriu seu primeiro edital para publicação tradicional. O que é publicação tradicional? Quando a editora faz todo o investimento na publicação do livro, por acreditar no potencial da obra, sem exigir nenhum tipo de investimento do autor.
Nos dias atuais, é cada vez mais raro que uma editora pequena e independente consiga publicar livros impressos de forma tradicional, pois o mercado está enfrentando diversas dificuldades, como a falta de insumos, o valor altíssimo do dólar e do papel etc. No entanto, a Rocket segue firme em sua missão para publicar autores nacionais.
Para isso, é necessário que o autor também tenha uma postura profissional. Na minha jornada como autora, eu costumava revirar os olhos quando ouvia essa frase, achando-a condescendente e infantilizante. Meus amigos editores e publishers me diziam que eu me surpreenderia se conhecesse suas histórias de atitudes péssimas da parte dos autores, e eu lutava para defender a minha classe, mas é claro, paguei a língua. Depois de muito estudo, cursos e experiência como editora, decidi abrir minha própria editora para publicar livros nacionais, e infelizmente, em poucos meses, tive experiências bizarríssimas com autores que queriam ser publicados por nós.
Decidi escrever este post por um motivo simples: às vezes acabamos não percebendo onde estamos errando. E numa tentativa de alinhar meu discurso com as minhas ações, percebi que de nada adianta reclamar dos autores que não seguem as regras e o bom-senso, se eu posso alertá-los meses antes de abrir o edital. Portanto, não leve este post para seu coração – ele não é pessoal. Leia com atenção para evitar alguns erros e atitudes que podem estar prejudicando sua jornada de autor.
Os maiores erros cometidos no edital do ano passado:
Livros que superavam o limite de palavras estabelecido. O edital era claro: limite de 90 mil palavras. No book proposal, na pergunta “qual é o tamanho da obra, em quantidade de palavras?” tivemos respostas como "100 mil palavras" e até a quantidade de caracteres da obra.
Textos não justificados. Ler um texto de 80 mil palavras, não justificado, é uma tarefa cansativa. Por isso, no edital, pedimos para que todos os textos fossem justificados. Mesmo assim, recebemos dezenas de arquivos não justificados.
Textos fora de formatação. Não exigimos nenhum tipo de formatação muito específica. Só pedimos que a fonte fosse Times New Roman ou Arial, tamanho 12 ou 14, e que o espaçamento fosse simples ou de 1,5. Não fizemos especificações de margem. Mesmo com tanta flexibilidade, recebemos dezenas de arquivos totalmente fora dessas especificações. E pior: autores reclamando que a formatação era difícil demais.
Noções básicas de formatação. Algumas obras chegaram a nós com problemas sérios, que tornaram a leitura impossível. Alguns dos problemas mais comuns foram: páginas inteiras sem quebra de parágrafo, diálogos sem travessão e falta de recuo nos parágrafos.
Em relação à prosa, estilo e narrativa, entendemos que é algo totalmente arbitrário, afinal, cada obra tem seu objetivo. Por isso, é muito importante que o autor saiba o que está escrevendo, e para quem. É possível que você tenha uma obra de altíssima qualidade, mas que não se encaixa na nossa proposta.
Então, quais são as preferência e prioridades da Rocket, em relação aos livros que deseja publicar em 2023?
Criatividade;
Escrita competente, direta;
Boas histórias, boas tramas, bons personagens;
Estilo moderno: ritmo intenso, imersivo, ambientação e descrição sensorial, worldbuilding criativo;
Questões político-sociais, quando necessárias, devem ser intrínsecas à narrativa e mostradas na história, em vez de contadas (evitar textão de Facebook na voz do autor);
O que evitar na narrativa:
Não importa quantas vezes escutamos “não comece com meteorologia”, todo edital recebe uma alta porcentagem de obras que começam com descrições impessoais e entediantes sobre a chuva, o clima árido, a ventania... Tente começar seu livro com algo mais interessante: personagem e conflito;
Narrativas impessoais. Ano passado, recebemos obras cujo primeiro capítulo inteiro era voltado para a descrição de uma cidade, um planeta, um lugar. Foque em apresentar personagens, conflito e deep POV.
O pavão misterioso. Enquanto lê, o leitor transforma palavras em imagens. Quando você começa seu livro com um prólogo de quatro páginas com sujeito oculto, onde não sabemos quem é o personagem (ou pelo menos uma idade aproximada, um gênero...), fica impossível visualizar o que está escrito. Isso deixa o leitor frustrado e ele abandona o livro. E o editor, também.
Info-dumping;
Notas de rodapé. Estamos acostumados a ler notas de rodapé em obras traduzidas, mas não há necessidade de usá-las, na maior parte do tempo, em obras modernas de ficção no idioma original. Elas distraem o leitor, arrancando-o na narrativa, quebrando a ilusão e a imersão, e quase sempre, podem ser evitadas. Insira a informação de maneira natural durante a narrativa.
Problemas comuns no book proposal:
A Rocket deu muitas dicas, ano passado, de como escrever um resumo de livro e uma sinopse comercial. Mesmo com as dicas, recebemos alguns book proposals confusos. Alguns dos erros mais comuns foram:
Sinopse gigantesca;
Resumo do livro no lugar da sinopse comercial;
Uma frase vaga sobre o livro no lugar da sinopse comercial;
Um discurso apelativo do autor no lugar do resumo do livro (“por favor leia o meu livro, é questão de tempo até que seja um best-seller mundial”);
No questionário, no lugar de GÊNERO PREDOMINANTE, muitos escolheram “explicar” a mistura de gêneros da obra, em vez de apenas escolher o gênero predominante. Ex: se sua obra é uma distopia com elementos de horror e erotismo, o gênero PREDOMINANTE é a distopia. Não crie uma nova opção para escrever “distopia com horror e erotismo e pitadas de drama e comédia”. Essas informações podem ser inseridas no resumo do livro, por exemplo.
Como Justificar seu texto:

Como criar uma sinopse comercial:
Os aspectos emocionais de submeter sua obra.
É um processo exaustivo. Após meses de trabalho, revisão, reescrita e autoedição, o autor finalmente reúne coragem, passa um tempão escrevendo resumo, sinopse e formatando a obra, apenas para passar MESES ansioso, alterando entre dois mindsets: "pensamento positivo, já consegui, deu certo" e "se eu não passar, vou ficar muito mal...". Acredite, nós entendemos.
Aqui vai uma lista de coisas que você pode ter em mente para não surtar:
Às vezes, seu livro é ótimo, mas o do outro era melhor. E tudo bem;
Às vezes, seu livro é ótimo, mas não tem nada a ver com a editora;
Às vezes, seu livro não é tão bom assim, e tudo bem. Contrate bons profissionais para fazer leituras críticas, faça cursos, leia sua obra com objetividade;
São centenas de livros e a editora geralmente se apaixona por 10, 15, 20... só que, no momento, podemos publicar apenas um. Como escolhemos esse "um"? Nem sempre é o que mais gostamos. Às vezes é, sim, uma decisão comercial. E tudo bem.
Muitos autores bestsellers foram rejeitados centenas de vezes (J.K. Rowling e Stephen King, por exemplo). Por que você não seria?
Mesmo se não for escolhido, veja o lado bom: você tem um livro pronto para ser publicado. Você pode enviá-lo a outras editoras, agentes literários, concursos e até autopublicá-lo. Escrever e publicar constantemente - esse é o trabalho do autor.
Não leve para o lado pessoal - você, como pessoa e como autor, não foi rejeitado: aquela obra específica não se encaixou perfeitamente na única vaga da editora. E tudo bem.
Esperamos que as dicas tenham ajudado. Seguir as regras (que não são tão complexas assim), mostra ao publisher o nível de profissionalismo do autor.